segunda-feira, 13 de abril de 2009

...quotas...


...eu que sou muito adversa a passar textos para o computador, tarefa que considero absolutamente entediante...vejo-me, agora, impelida a transcrever este texto...porque me parece muito esclarecedor, embora tenha a certeza que não o será para todos quantos o lerem...ainda assim, vou mesmo fazer minhas as palavras de Inês Pedrosa, na revista Única desta semana...10/04/2009



"As Inteligentes e as outras...

Onde se explica que as quotas não afectam o QI das mulheres



Na minha inocência, ocorria-me em certas dias duvidar da necessidade das quotas como acelerador da democracia. Ponderava: e se as mulheres eleitas por quotas são menos respeitadas por isso mesmo?


Esta simpática ponderação passou-me por completo há dias, quando vi na televisão um debate trágico sobre este assunto. Em cena, dois homens e duas mulheres. Uma delas, que supostamente moderava, interrompia bruscamente a outra, defensora das quotas, enquanto dava todo o tempo do mundo ao homem que vociferava, por cima da voz da sua opositora, clamando que nenhuma mulher inteligente "lá em casa" aceitaria ser eleita por quotas.

Ora, quando um opinador televisivo se põe a sentenciar sobre o que o pessoal "lá em casa" deve ou não deve pensar eu fico muito enervada - precisamente por estar em casa, e a ouvir prepotências demagógicas.

No caso vertente, perguntei ao fulano: "Quem és tu, Brutus para me dizer que sou estúpida só porque não penso como tu?" O problema é que o dito cujo não me ouvia, e quando a mulher queria explicar-lhe porque é que as quotas são necessárias ele berrava por cima dela, perante o olhar cúmplice da moderadora (que visivelmente não queria ser tomada por uma dessas burras que precisam das quotas) e a complacência do segundo homem, que ia atirando umas larachas sobre a percentagem das "senhoras" na população portuguesa, para manter a fogueira acesa.


Pior do que a presunção sobre o QI das pessoas "lá em casa", só mesmo a vénia irónica sobre os méritos das "senhoras".


Fechei a televisão. Demasiado tarde - já estava deprimida por náo ter nascido no século XXV, com estas conversas parvas transformadas em património histórico.


Recordemos. Até à Constituição de 1976, a lei portuguesa instituía, claramente quotas de cem por cento para os homens. Estava escrito (parágrafo 2 do artigo 6º da Constituição de 1933, após a revisão de 1971): "A igualdade perante a lei envolve o direito de ser provido nos cargos públicos, conforme a capacidade ou serviços prestados, e a negação de qualquer privilégio de nascimento, raça, sexo, religião, ou condição social, salvas, quanto ao sexo, as diferenças de tratamento justificadas pela natureza e, quanto aos encargos ou vantagens dos cidadãos, as impostas pela diversidade das circunstâncias ou pela natureza das coisas."


Não havia fuga possível: antes do 25 de Abril, até para sair do país as mulheres tinham de ter autorização dos maridos. Trinta e cinco anos depois, quantas mulheres representam politicamente este país maioritariamente constituído por mulheres? Uma vergonhosa miniminoria. "Porque não querem, não estão interessadas" - respondem os homens mais timoratos e meia dúzia de mulheres urbanas priveligiadas, aflitas com a eventualidade de virem a ser consideradas menos maravilhosas com a chegada de uma suposta massa indistinta de mulheres por quotas.


Observemos a situação a partir do ponto de vista neutral de um ET sensato (e devidamente assexuado): não é estranho que nunca ninguém se tenha preocupado com a proliferação de homens incompetentes, postos na Assembleia meramente para cumprir a quota e fazer vénias aos chefes?

Há momentos inesquecíveis.

Vá lá saber-se porquê, a mim deu-me para não esquecer aquele momento em que, num congresso do PS, um socialista esbracejava contra as quotas, aventando, catastrófico, que António Guterres e António Vitorino podiam não ter vingado se esse sistema já estivesse instituído.


É caso para pensar: seriam as mulheres capazes de tanto? Teriam sido as hipotéticas Antónias substitutas destas duas belas cabeças tão assustadoramente brilhantes? O que valeu à carreira destes ilustres homens foi, então, o facto de a generalidade do mulherio não estar interessado na política?


Mas não basta escrever uma lei para mudar a sociedade. Que "interesse" pode desenvolver pela participação social uma mulher que trabalhe o dia inteiro numa empresa (com um salário geralmente inferior ao do homem que trabalha ao seu lado), e que tenha ainda a lida da casa e as crianças a seu cargo num segundo turno de trabalho doméstico? Caso ela desenvolva, mesmo assim, esse "interesse", que receptividade encontrará no marido e na comunidade?


A situação real é esta: a auto-regulação não funciona.


Há que instituir uma habitualidade das mulheres na política - não porque tenham que ser "melhores" ou inventar uma "maneira outra" de fazer política.


Apenas porque é justo. Mais nada."



uff...detesto mesmo copiar...mas valeu a pena...


so cretty

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